domingo, 28 de março de 2010

2.ª carta ao Provedor do Ouvinte da RDP

Ex.mo Sr. Adelino Gomes,
Provedor do Ouvinte da RDP,

Não consegui ler na íntegra os guiões dos episódios 31 a 34 da II série do programa Provedor do Ouvinte: fui impedido pela revolta, por ver que o vosso sub-director de Informação se limita a defender o /status quo/, recusando-se a repensar os objectivos da rádio pública e a sua razão de existir -- como os políticos que insistem em afundar o país com privatizações obscenas e obras faraónicas, sem nunca pensarem nas reais consequências das medidas que propõem. É revoltante ver tanto autismo (ou tanta maldade) na política e na comunicação social portuguesa. Mas dominando a revolta, ainda consegui ler algumas frases às quais não posso deixar de responder.

Disse Paulo Sérgio que "não podemos meter a cabeça na areia e dizer que o serviço público é um serviço sem público. E portanto, precisamos obrigatoriamente de ter público". E eu pergunto: obter público com futebol, para quê? Mas afinal o que interessa é ter público a todo o custo? Então por que razão o Canal 2 não transmite pornografia? Certamente iria cativar muito público! Não transmite porque o que deve interessar a um canal público é cativar audiências *para aqueles programas que contribuem para a formação de uma opinião pública mais esclarecida, uma sociedade mais participativa e um país mais próspero*. Uma rádio pública que pretende cativar audiências com mais futebol, é como uma escola que tentasse combater o abandono escolar substituindo as aulas pelos jogos: seguramente a escola cativaria mais "clientes", mas... deixaria de ser uma escola, pois deixaria de cumprir os seus objectivos.

O desafio na escola é tornar as aulas aliciantes. Do mesmo modo, o desafio da rádio pública deve ser cativar ouvintes *para os programas que podem contribuir para uma sociedade mais informada, mais próspera, mais saudável e mais justa*. É um objectivo difícil de alcançar? Admito que sim! Mas não menos difícil é o desafio que se coloca à escola de hoje -- arrancar as crianças à droga dos telemóveis e videojogos e trazê-las de volta ao estudo -- e apesar disso os professores continuam a tentar, no limite das suas forças, com espírito de missão, contra todas as adversidades.

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