sábado, 10 de abril de 2010

Ligações relevantes para acompanhar a candidatura de Fernando Nobre

sexta-feira, 9 de abril de 2010

"Gritos contra a Indiferença", de Fernando Nobre (Temas e Debates, Maio de 2007)

Nas próximas eleições presidenciais em Portugal, teremos o privilégio de poder votar num candidato que reúne algumas das qualidades mais desejáveis num político:
* sólidas convicções e princípios éticos, traduzidos em acções concretas ao longo de toda uma vida;
* grande capacidade de trabalho, com provas dadas;
* capacidade de conquistar simpatias e de congregar esforços;
* vasta cultura e um profundo conhecimento do mundo e da condição humana.
Refiro-me naturalmente a Fernando Nobre, e para mim a opção por este candidato é óbvia: não imagino sequer que possa surgir outro de igual gabarito.

Infelizmente, Fernando Nobre tem contra si o desconhecimento da maioria dos portugueses e a desconfiança de muitos dos restantes (desconfiança estimulada em parte pelos apoiantes dos outros candidatos, muitas vezes com argumentos completamente espúrios). É preciso que a sua mensagem passe -- que o eleitorado conheça o homem e as suas convicções. O ideal seria que cada pessoa lesse o que Fernando Nobre escreveu e tentasse conhecer o trabalho por ele desenvolvido na AMI ao longo de mais de duas décadas; porém, muitas pessoas não terão tempo ou vontade para ler na íntegra os seus livros. É a pensar nessas pessoas que aqui disponibilizo alguns excertos do livro "Gritos contra a Indiferença" (1.ª Edição, Maio de 2007):

  • Materialismo, falta de ética, e a submissão do político ao económico

p.23: "Estamos num mundo (...) onde se elegeu um novo deus, o Mercado, em nome do qual tudo parece querer ser feito e tudo parece ter justificação. (...) É o novo mundo da especulação, (...) de uma globalização apenas financeira enquanto se põe de parte aquela globalização que efectivamente interessa, a globalização dos valores, da ética, da cultura e da tolerância (...). Estamos num mundo (...) onde a política abdicou das suas responsabilidades, desregulamentando a sociedade em termos até hoje nunca vistos."

p.25: "O Homem é mais importante do que os números dos parâmetros económicos. É mais importante saber se os homens vivem melhor e são mais felizes do que estarmos sempre preocupados com o lucro, a competitividade e a produtividade."

p.32: "(...) o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial (...) estão a desequilibrar várias regiões do mundo pelos planos que impõem e que vão sempre no sentido da ultraliberalização do mercado."

p.109: "Um dos grandes efeitos perversos da globalização especulativa em curso foi (...) a queda das ideologias. Todos os políticos têm o mesmo discurso; quem manda é indiscutivelmente o poder económico-financeiro especulativo. É constrangedor ver como os ex-ministros são hoje funcionários dos grandes grupos económicos. (...) intimamente associado a esse poder económico, predomina também o mundo da comunicação que já só fala de «conteúdos» (...) tendo esquecido por completo o seu dever informativo e formativo."

p.123: "(...) poderia propor-se uma indemnização que as empresas da indústria farmacêutica deveriam pagar aos países onde vão buscar as suas matérias-primas, que uma vez purificadas dão lugar aos medicamentos extremamente caros que são postos no mercado."

p.264: "Todo o ser humano procura apenas e só satisfazer as suas necessidades mais elementares, ou seja, a alimentação, a habitação, o vestuário, a saúde, a educação, o amor, e a fé numa entidade superior (...) independentemente do nome que lhe é dado. (...) É verdade que há uma minoria que ergueu o dinheiro como um deus e que em nome desse falso deus está disposto a tudo, inclusive a matar o seu semelhante. Há uma minoria disposta a tudo para ter um aparente e efémero poder e, infelizmente, tem condicionado os desejos e as vontades da grande maioria da população do nosso planeta."

p.266: "Acredito plenamente que o «ser» tem de se sobrepor ao «ter». Sei que não é o sentimento dominante neste início de século (...). (...) há poucos anos ouvi (...) o então presidente da Organização Cooperação e Desenvolvimento da Europa, Jean Roger Bovin (...), fazer uma análise (...) «que a pobreza impede o desenvolvimento social e o progresso», que «o crescimento económico não conduz obrigatoriamente ao desenvolvimento social», e que «o desenvolvimento social não é alcançado sem um investimento sério na saúde e na educação». Afirmou também que «a democracia e a miséria não podem coexistir» (...)."

p.267: "O «ter» não tem esperança porque se esgota nele próprio, alimenta-se dele próprio exigindo sempre mais «ter»! (...) «Ser» é humanidade, consciência social, livre-arbítrio, liberdade, igualdade, fraternidade, solidariedade, cultura, preocupação ambiental, ecumenismo, tolerância, aceitação e preocupação do outro. Este é o meu pensamento (...) de um cirurgião que muitas vezes teve vidas entre as mãos, de um operacional que percorreu o mundo e de um homem que sabe perfeitamente o como é a morte e que gostaria de a enfrentar olhos nos olhos com o mínimo de angústia e medo."

p.278: "(...) a vida de todo o ser humano (...) tem o mesmo valor insubstituível. (...) Já é, pois, mais do que tempo de substituirmos o «politicamente correcto» pelo «humanamente correcto» (...)."

p.299: "(...) quem sabe um pouco de História sabe perfeitamente como acabou o decadente e farto, de orgias e de vómitos, Império Romano... Está a Europa, bloqueada por líderes incompetentes e insensíveis escudados na sua visão ultraliberal autista (...), preparada para impedir, com acções decisivas, inteligentes e humanistas, que tal aconteça? Tal exigiria uma mudança radical dos seus líderes do seu discurso e sobretudo da sua acção."

  • Importância da formação cívica

p.24: "Para que possamos viver numa sociedade harmoniosa, é fundamental que três pilares fundamentais a sustentem: o pilar do Estado, (...) o pilar da sociedade civil, (...) e o pilar do mercado, da verdadeira economia e não da especulação e do jogo. (...) Acredito que só pela educação e pela formação cívica é que tal conceito ideal pode ser atingido."

p.26: "É preciso redistribuir, valorizar o esforço e as competências; é preciso investir na formação cívica, na formação escolar, na saúde, nas estruturas de lazer; é preciso investir na defesa do meio ambiente (...)".

p.94: "Ao colocar-se (...) em certas faculdades de Medicina, toda a ênfase na selecção e na formação técnica e científica e ao descurar-se a vertente humanitária (...) está-se a ir, penso, por caminhos contraproducentes e mesmo eventualmente perniciosos (...). Só com ciência e humanidade, em doses bem equilibradas, se respeitará a dignidade humana (...). (...) já o Prof. Abel Salazar dizia: «O médico que apenas é médico nem médico é.»."

p.122: "A boa governação -- é fundamental que (...) se preocupe com o destino dos seus cidadãos e que invista nos dois pilares do desenvolvimento que são a saúde e a educação."

p.123: "Apostar numa formação adequada dos quadros, quadros esses que deviam ser devidamente valorizados e não ostracizados [nos países menos desenvolvidos]. (...) em muitos países carenciados o quadro técnico não representa mais-valia alguma. Só é valorizada pelas governações cleptocratas a carreira militar ou a carreira política (...)"

p.328: "Não basta (...) que os líderes mundiais tenham uma formação académica superior, se nesse manancial de conhecimentos não estiver claramente assumido «o dever de memória» assim como «uma cultura ética e de diálogo»."

p.333: "(...) o sábio Pitágoras dizia: «Educai as crianças e não será preciso castigar os homens.» Invista-se, pois, na educação, informação, sensibilização para a cidadania e bom senso (...)."

  • Democracia em perigo, direitos e participação cívica

p.31: "A elaboração de tratados é fácil, o problema está na sua não aplicação posterior. Efectivamente, a Declaração Universal dos Direitos do Homem é a prova mais que evidente do que acabo de referir. Chegou o momento de interiorizar que os valores e a própria democracia não são perenes. Temos que estar atentos para evitar derivas (...)".

p.58. "(...) as diplomacias das «grandes potências». Diplomacias pouco ou nada democráticas, na medida em que, conduzidas quase sempre à revelia dos sentimentos e das aspirações dos nossos povos, se fossem postas à votação, de certeza não seriam sufragadas."

p.69: "Desde que ocorreram as manifestações contra a globalização financeiro-especulativa, com início em Seattle em 1999, (...) os poderes político e financeiro globais entenderam domesticar o movimento da sociedade civil, já que este se mostrava inconformado e muito crítico do andamento global da sociedade."

p.76: "(...) a implicação sistemática da sociedade civil organizada nos processos de decisão de assuntos que dizem respeito à vida dos cidadãos é decisiva se quisermos um Portugal, uma Europa e um mundo aberto e democrático que efectivamente pretenda (...) erradicar a pobreza e promover um desenvolvimento sustentado e durável para todos."

p.117: "O grande risco actual (...) é a tentativa global de silenciamento da sociedade civil por duas vias: a pressão psicológica e o condicionamento dos financiamentos. (...) Cada vez mais as organizações não governamentais vêem o seu financiamento cerceado por critérios financeiros pouco claros que as reduzem à situação de empresas subcontratadas e politicamente condicionadas."

p.122: "Seria importante também que que os cidadãos participassem na elaboração dos orçamentos das suas regiões e porque não dos seus países, o chamado «orçamento participativo»."

p.137: "O «combate ao terrorismo» também tem servido como álibi a todos os desvios totalitários e securitários com os consequentes atropelos grosseiros aos Direitos Humanos (...), assim como à introdução, à revelia dos povos, de perigosas alterações e de duvidosas interpretações dos direitos constitucionais dos cidadãos, mesmo nos países ocidentais (...). «O terrorismo floresce verdadeiramente nas áreas de probreza, de desespero e de falta de esperança, onde as pessoas não vislumbram qualquer futuro.»"

p.142: "Na concretização do combate ao terrorismo (...) não podemos aceitar (...) que se alterem leis fundamentais e que se interpretem as constituições à luz das conveniências momentâneas. (...) Se hoje a América e a Europa ainda estão em democracia, amanhã regimes políticos fascizantes, mercê das alterações feitas pelos próprios «democratas», poderão amordaçar-nos, prender-nos e mesmo torturar-nos."

p.165: "(...) a intervenção «Luta contra o Terrorismo» que fiz no Instituto de Defesa Nacional em Lisboa no dia 4 de Julho do ano passado [2001] (...) justificou que tivesse sido brindado, num aparte na altura da pausa para café, por uma senhora que se apresentou como sendo «conselheira» de uma embaixada, pelos vistos descontente com a minha intervenção e com as minhas prévias tomadas de posição públicas, com as acusações de eu ser «um agente permissivo e facilitador do terrorismo internacional» terminando a dita «diplomata» a sua invectiva verbal virando-me as costas ao mesmo tempo que me lançava duramente «espero que tenha entendido»: pela primeira vez na minha vida entendi perfeitamente (...) que me tinham acabado de fazer um aviso-ameaça. Tomei a precaução de dizer a várias individualidades bem colocadas no nosso país de que embaixada era a senhora conselheira tão agressivamente solícita e ameaçadora caso eu viesse a escorregar, e me magoasse, numa qualquer casca de banana... (...) Terrível mundo esse em que nos querem obrigar a viver: VERGADOS, AMORDAÇADOS E COM MEDO! RECUSO-ME A TAL."

P.170: "o mal versus o bem (...). Temos de alertar contra discursos desta natureza, discursos maniqueístas que só apontam dois caminhos: ou estar a favor ou estar contra. É o discurso das ditaduras."

p.174: "(...) a pobreza é uma violação profunda das cinco famílias dos Direitos Humanos fundamentais (civis, políticos, culturais, económicos e sociais)! Por outro lado, a violação sistemática de um qualquer desses direitos degenera rapidamente em pobreza! Há pois uma ligação estreita entre pobreza e violação dos Direitos Humanos."

p.180: "Em Joanesburgo, há vivendas que, nos seus jardins, têm minas antipessoal. Isso quer dizer que o próprio proprietário já não pode passear no seu jardim. Estamos a caminho de uma sociedade extremamente perigosa, em que todos somos as potenciais vítimas mesmo se enclausurados em torres de marfim supostamente bem protegidas."

p.213: "(...) é fundamental que todos tomemos consciência do ataque cerrado que está a ser conduzido contra a sociedade civil organizada assim como da existência do projecto do American Enterprise Institute, denominado NGO Watch, cuja malignidade é por demais evidente."

p.234: "Lançaram-se mil suspeições com o objectivo de se alcançar a demonização e a domesticação das ONG! Não é por acaso que, no mundo, assistimos cada vez mais às dificuldades e aos constrangimentos ao acesso aos financiamentos para os projectos das ONG! (...) Não é por acaso que passámos, num ápice, do conceito de «parceiros indispensáveis» para o de «empresas subcontratadas»... (...) já vi morrer várias ONG europeias cada vez mais rapidamente... (...) lamentavelmente e para grande dano das populações que ajudavam!"

p.284: "(...) a conservação de documentação objectiva (...) e a possibilidade do seu acesso aos historiadores, investigadores e simples cidadãos assim como às escolas e organizações da sociedade civil é insubstituível a fim de que não seja permitido a certos poderes instalarem ditaduras do vazio e do esquecimento fazendo crer aos seus povos que foram sempre «heróis e mártires»..."

p.303: "Os povos não pertencem aos governos, sejam eles nacionais ou supranacionais mas, sim, à Humanidade e, por isso, têm o direito e o dever de reagir e de exigir uma maior participação nas decisões que possam pôr em causa a sua existência presente ou futura."

p.306: "(...) a menos que os cidadãos no mundo despertem da letargia profunda em que mergulharam, ou foram induzidos, e exijam lideranças globais mais responsáveis, a espada de Dâmocles que está suspensa por um frágil fio desabará em cima de todos nós. Estas doenças incendiárias (a indiferença, a intolerância e a ganância), se não forem dominadas com o rápido surgimento de uma nova liderança mundial mais esclarecida, mais sensata e menos geradora de revolta, de humilhação, de injustiça, de exclusão e de ódio, levar-nos-ão a confrontos civilizacionais, religiosos e sociais de dimensões até hoje nunca vistos e inimagináveis."

p.332: "Não pudemos ou não soubemos ser escutados de forma a impedir a absurda e criminosa guerra contra o povo iraquiano. Não nos é permitido voltar a falhar."


  • A hipocrisia da guerra e da política internacional


p.47: "(...) na questão do Kosovo: para alguns, oitocentos ou mil mortos provocados pelos Sérvios era um genocídio, mas o mesmo número provocado por bombardeamentos da NATO era apelidado de «danos colaterais»."

p.121: "(...) todos sabemos o que tem acontecido entre Israel e os territórios sob tutela da Autoridade Palestina onde médicos e enfermeiros têm sido abatidos assim como ambulâncias são destruídas e mulheres em trabalho de parto são bloqueadas nos checkpoints para percebermos a enorme margem que vai entre a teoria e a prática no que diz respeito ao direito à saúde."

p.125: "O exacerbado drama humano em curso na Palestina e em Israel explica-se (...) pela intolerância e arrogância do Governo israelita tendo à cabeça um primeiro-ministro com marcadas tendências neonazis que julga, com o álibi da «luta contra o terrorismo», tudo lhe ser permitido (...). Lembro-me do cerco de Beirute em 1982 (estive lá!) e das matanças nos campos de Sabra e Chatila... E não me venham com o argumento de que «é democrático porque foi eleito», porque, nesse caso, o famigerado, louco e assassino Hitler também era democrático porque também ele foi eleito em 1933 (...). Seria importantíssimo relerem, entre outros, Mila 18, Exodus, oh Jerusalem... e repensarem nos Dez Mandamentos de Moisés e no suicídio colectivo de Massada durante a ocupação romana para entenderem que não têm o direito de fazer aos outros o que injustamente lhes fizeram (...). (...) o pouco que tinha sido feito [na Palestina com financiamento estrangeiro] está hoje reduzido a escombros pelo vandalismo arrasador das invasões das forças israelitas (...). (...) profundo sentimento de dor que sentimos pelas vítimas, sejam elas israelitas ou palestinas, (...) seja às mãos de um homem ou mulher-bomba (...) seja às mãos de um bulldozer que lhes desfaz a casa por cima das cabeças só porque não querem abandoná-las ou porque não as abandonam suficientemente depressa!"

p.128: "(...) para haver paz na Palestina tem que haver (...)
* Dois estados independentes (e não um independente, Israel, e outro uma colónia, (...)
* o desmantelamento e o fim dos colonatos israelitas no futuro estado da Palestina (que já só representa 22 por cento da antiga Palestina) e exige que
* Jerusalém (...) seja desmilitarizada (...) e seja a capital dos dois povos e dos dois Estados (...)."

p.139: "Como diz G. Steiner, «os maiores criminosos de guerra desde Hitler são os vendedores de armas, os países que as vendem."

p.140: "Nos manuais militares americanos o «terror» está definido como sendo a «utilização calculada para fins militares ou religiosos da violência ou da ameaça de violência, da intimidação, da coacção e do medo». (...) esta definição é muito significativa pois cobre exactamente as «guerras de baixa intensidade» que os EUA provocaram nos últimos 30 anos. A título de exemplo, «só a administração do presidente Reagan na Nicarágua provocou 57 mil vítimas, das quais 29 mil mortos, e a ruína de um país», dixit Noam Chomsky."

p.141: "O exemplo, a benevolência, o estender de uma mão fraterna e conciliadora, foi o que me ensinaram, deve vir do mais forte."

p.164: "(...) o último director-geral da Agência das Nações Unidas OPCW (Organização para a Proibição de Armas Químicas), o brasileiro José Maurício Bustani, foi, ao que tudo indica, intempestivamente demitido porque (...) entendia que os centros nucleares norte-americanos também deveriam ser sujeitos a fiscalizações pela referida agência!"

p.258: "(...) ouso esperar dos sobreviventes ou descendentes desses homens ou mulheres, salvos por Aristides de Sousa Mendes, nenhum deles defenda hoje as atitudes, também elas fascizantes, do actual Governo de Israel, que pratica uma política verdadeiramente anti-semita."

p.277: "(...) lembrar a resposta que Madeleine Albright deu ao ser confrontada com o relatório da UNICEF de 1998, que demonstrava o massacre silencioso de perto de 500 mil crianças durante o embargo [ao Iraque]. A resposta foi: «É pena... mas é assim... não há nada a fazer.» Estou certo de que se se tratasse dos seus filhos ou netos, a resposta teria sido bem diferente! Os interesses mudam, os discursos também... Esta mesma tragédia (...) foi usada como argumento para abater o ditador."

p.302: " uma acção de solidariedade enérgica e urgentíssima, no sentido de uma cooperação forte, activa e verdadeira que leve a uma melhoria significativa das condições de vida desses povos, nos seus próprios países, criando condições de um desenvolvimento sustentado poderá anular essa tendência migratória que já começou e que nos ameaça submergir."

p.309: "(...) os movimentos terroristas e/ou revolucionários (...): as lideranças desses movimentos sempre pertenceram a elementos letrados (...) mas (...) a massa humana desses movimentos é, como sempre foi, constituída pelos famintos, excluídos, esquecidos e humilhados. Enquanto não se secar, educando e desenvolvendo, esse verdadeiro pântano da miséria humana, os movimentos terroristas vão ver o seu recrutamento facilitado e a corrente migratória será imparável. (...) É evidente que esses grupos têm de ser combatidos com determinação total, mas tal não nos dá o direito de utilizarmos também metodologias terroristas, como se tem verificado (...): «A causa da América está perdida se esta não conseguir restabelecer a sua estatura moral.»"

p.316: "Como não pensar também, lamentando profundamente, que países como os EUA, a China, a Rússia e a Índia, possuidores dos maiores stocks de minas, não tenham ainda ratificado a convenção proibindo o fabrico e a comercialização desses engenhos de morte que matam milhares de crianças por ano, que hipotecam gravemente a actividade agrícola (...) e que invalidam em tantas circunstâncias os esforços de reconstrução e pacificação pós conflito."

p.323: "(...) grupos ou movimentos terroristas (...) que (...) por meio de actos de terror, procuram desestabilizar a situação vigente e, se possível, tomar o poder, mesmo se para tal tenham de utilizar os massacres (...). Dito isto, importa que não os confundamos com os movimentos de resistência que, paralelamente, podem coexistir e actuar nas mesmas áreas geográficas (...). (...) muitos dos pais fundadores dos Estados modernos foram, poderiam ter sido ou seriam hoje, seguramente, considerados terroristas (...). Não nos esqueçamos que todos os resistentes europeus à ocupação nazi durante a Segunda Guerra Mundial foram apelidados de terroristas (...). Designação idêntica tiveram também, embora muitos sofram de amnésia histórica, movimentos cujo contributo foi decisivo para a criação de novos estados e cito: os grupos Irgoun e Stern, tão importantes na génese do Estado de Israel. Não nos esqueçamos também -- como a memória é volúvel! -- de que os guerrilheiros chechenos antes do 11 de Setembro eram apelidados pelo Ocidente de «combatentes pela liberdade» para (...) por conveniências geopolíticas globais... passarem a ser rotulados de «terroristas».
(...) o movimento Khmer vermelho no Camboja e o movimento Interhamwe no Ruanda, em 1994 (...) foram genocidas, de verdadeiro terror e não podiam, ou não deviam, ter podido ser tolerados pela comunidade dos seres humanos."

p325: "Os governos irresponsáveis que criam flagrantes desigualdades e iniquidades são particulares geradores de humilhação, de desespero e de ódio. São eles que estão a provocar a fuga maciça das suas populações em direcção ao Ocidente. As suas nefastas práticas foram quase sempre encobertas ou incentivadas pelo Ocidente sob o espúrio raciocínio que me foi uma vez «explicado» por um governante europeu, que a «corrupção é útil porque cria uma elite rica que, investindo no seu país, é geradora de riqueza...»."

p.326: "(...) os maiores produtores e vendedores de equipamentos bélicos (...) são, simultaneamente, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Vale a pena lembrar que o Conselho de Segurança das Nações Unidas tem como primeira missão «zelar pela paz no mundo»... Que perverso e insuportável paradoxo!"
 
  • Comunicação social


p.50: "(...) escandalosa discrepância com que se dá a notícia da morte de duzentos e trinta e um europeus [na explosão de um avião Concorde e no afundamento de um submarino russo], se comparada com o silêncio, a indiferença com que brindamos quotidianamente as mortes, igualmente atrozes, dos milhões, também eles nossos irmãos, que em África, na Ásia e na América Latina morrem todos os anos de fome, de malária, etc.."

p.55: "Num mundo em que a anónima alta finança global, omnipresente, cada vez mais dona e senhora dos meios de comunicação globais, controlando, anestesiando, manipulando e instrumentalizando -- ou com fortes tentações para o fazer -- as informações que nos servem são, muitas delas, já manipuladas e desinformadas e com marcados efeitos secundários soporíficos (...). «Estamos já no momento histórico da luta implacável do mercado contra a democracia.» As modernas ditaduras já não precisarão de polícias políticas, de torturas... Bastar-lhes-á controlar, através da alta finança, os «conteúdos» da comunicação, e assim, todos aqueles que gritam poderão ser socialmente assassinados em praça pública, de modo asséptico!"

p.180: "O noticiário (...) começou às 5 horas e acabou às 5 horas e 14. (...) dez minutos foram dedicados a entrevistar o presidente de um clube de futebol do nosso país para discutir, mais uma vez, a questão dos estádios de 2004. Eu pergunto-me se efectivamente neste país (...) a comunicação social não tem assuntos de maior interesse para focar do que continuar a falar do futebol (...). Tenho 50 anos e já não há pachorra para estar a aturar certas coisas. Por isso, se tenho sido politicamente incorrecto, daqui para o futuro ainda vou ser muito mais em nome do humanamente correcto."

  • Ética nas ciências, ambiente e princípio da precaução

p.58: "(...) há ainda a salientar as mentes geniais e brilhantes, mas cegas e loucas, dos cientistas que, enclausurados nos seus laboratórios e levados pela excitação da «descoberta», omitiram as suas responsabilidades éticas perante a Humanidade e, deixando-se manipular por pressões políticas e «razões de Estado», conceberam e realizaram as bombas atómicas, químicas e bacteriológicas (...). Além disso, sem acautelarem todas as possíveis implicações, lançaram-se desenfreadamente (...) na manipulação genética criando os OGM (...), verdadeira espada de Dâmocles suspensa sobre os agricultores e, portanto, sobre todos nós (...)."

p.99: "(...) é importante referir que a África negra era auto-suficiente em matéria alimentar em 1960, e que hoje recebe como donativo quatro quintos das suas necessidades alimentares. (...) estou altamente preocupado com a introdução dos organismos geneticamente modificados nesses mercados."

  • O papel das ONG

p.73: "É essencial que as ONG preservem a sua identidade, a sua neutralidade e a sua independência de acção, que não haja manipulações nem instrumentalizações na sua intervenção humanitária, que não haja subversão dos motivos invocados para essa intervenção e que a segurança das equipas humanitárias e a defesa dos valores humanitários (...) sejam respeitadas. Por exemplo: está fora de questão (...) a eventualidade de as ONG fornecerem informações de cariz estratégico-militar às forças militares presentes no «teatro de operações supostamente humanitário»."

p.88: "Com a mistura dos géneros, acção militar acoplada com «acção humanitária», está instalada a confusão total nos espíritos. As instituições genuinamente humanitárias oriundas da sociedade civil estão totalmente marginalizadas e impossibilitadas de actuar, porque manietadas por um plano político-militar-humanitário muito bem engendrado (...)."

p.100: "(...) para as forças hostis nos conflitos a visão da convivência entre os agentes humanitários civis e os militares veio provocar uma enorme confusão e não é por acaso que, a partir dessa altura, os agentes humanitários civis das ONG começaram pura e simplesmente a ser executados..."

p.212: "(...) o American Enterprise Institute, que agrupa os neoconservadores que lideram hoje a política de exclusão levada a cabo pelo Governo dos EUA, criou um sistema de vigilância das ONG que se chama NGO Watch. Este sistema tenderá, temo fortemente, a pôr no índex as instituições não governamentais que sejam críticas e tentará destruí-las através da comunicação social."

  • Independência face aos partidos

p.112 (discurso proferido na Convenção do PSD a 17 de Fevereiro de 2002): "É neste estado de espírito, de cidadão independente, que vos falarei abertamente, deixando desde já bem claro que não estou aqui para apelar ou deixar de apelar ao voto no PSD."

  • Prioridades para Portugal e atitude face à política

p.113: "Está feito o diagnóstico sobre os críticos sectores da saúde, da educação, da justiça, da agricultura, da defesa, da política externa... que são débeis porque débeis são a nossa organização, a nossa vontade e determinação, a nossa economia e a nossa sociedade civil."

p.114: "(...) só com rigor, só sobrepondo o mérito, a competência e as provas dadas à cunha e ao clientelismo, só com profissionalismo, (...) só com transparência na gestão das contas públicas, só com uma genuína e sincera abertura à sociedade civil, chamada a intervir e incentivada a participar, só com um combate sem quartel à corrupção que mina a eficácia e a dignidade nacionais (...) será possível debelar a crise moral, social e económica que nos espreita. (...) Portugal (...) precisa de estadistas, quero dizer, de políticos que não se demitam das suas responsabilidades e que façam da correcta gestão do bem público a sua prioridade não esquecendo nunca que a ética, a estabilidade e a equidade sociais deverão estar sempre presentes no momento da tomada de decisões."

p.172: "(...) a União Europeia considera que 20 por cento dos portugueses são muito pobres e que 60 por cento dos nossos compatriotas se assumem como pobres!"

p.175: "(...) apelo desde já à criação de um Dia Nacional contra a Exclusão Social e a Pobreza que deveria pôr, entre outros, a tónica nos casos de sucesso no País que servissem de dinâmica mobilizadora para todos e que nos empolgassem! (...) ouso pensar que (...) a larga maioria dos portugueses estaria de acordo quanto à estratégia e aos meios que permitissem rectificar o estado de pobreza do nosso país: investimento a sério na educação e na saúde, incentivos à formação profissional e à produtividade (...), combate determinado à fraude e evasão fiscais (o que será facilitado se o Estado for visto como pessoa de bem!), desenvolvimento do fundamental conceito de «cidadania empresarial», valorização da competência profissional, do método e da organização em detrimento do laxismo, do amiguismo e do clientelismo político (...), investimento numa verdadeira cultura cívica de responsabilidade e de solidariedade entre os cidadãos e entre estes e o Estado, e vice-versa, investimento sem contemplações na investigação e na ligação entre as universidades e as empresas (...), valorização do nosso interior, dos nossos agricultores e pescadores..."

p.176: "(...) é de causas, de UMA CAUSA que todos nós precisamos. Se no-la derem, acreditaremos que somos capazes e, não tenho dúvidas, resolveremos a questão tão bem ou melhor do que outros! SOMOS CAPAZES: PRECISAMOS TÃO-SÓ DE UMA CAUSA JUSTA E NOBRE E DE SERMOS MOTIVADOS!"

p.304: "(...) acredito plenamente que temos razões para sermos um povo com confiança em si próprio, para não cairmos no conformismo e derrotismo dos perdedores e que podemos ser líderes na defesa intransigente e inegociável de valores e princípios que preservem e dignifiquem Portugal e a Humanidade e que possam desactivar as bombas-relógio que representam a pobreza, a fome e a violência. (...) lembro-vos o que perguntava Jorge de Sena a concluir um poema sobre a liberdade após o 25 de Abril: «E agora, povo português?»"

  • Um homem que conhece o mundo, a vida e a morte

p.274: "Aquele que já viu uma criança abandonada e esquelética a comer terra, erva ou a correr atrás de uma galinha para lhe arrancar uma migalha de pão do bico, aquele que já viu o cadáver de uma criança atirado como um saco do lixo na beira do caminho, esse compreenderá certamente os sentimentos de impotência e de revolta que tantas vezes me invadiram."

p.299: "Contrariamente ao que muitos opinion makers dizem, quantas vezes sustentados apenas em (...) discussões de café tão ociosas quanto vácuas e desfocadas, o que eu digo é sustentado no que observo com preocupação e tristeza nas sete partidas do mundo há quase três décadas."

p.304: "Como diz António Alçada Baptista (...): «A fome e a violência são absurdos de tal modo estampados na cada do mundo que, quem a isso não é sensível, é porque não se chegou a integrar na espécie humana."