Tarde de sábado. Ou noite de domingo, tanto faz. Estou na cozinha, a lavar loiça, ou a cozinhar, ou a fazer qualquer outra dessas tarefas que tendemos a considerar uma odiável perda de tempo. Quero rentabilizar em parte esse tempo morto, e para isso ligo o rádio, na esperança de ouvir notícias ou algum debate ou documentário. Tento a Antena 1, a TSF, a RCP e a Renascença -- não necessariamente por esta ordem -- e o que oiço? Futebol, futebol, futebol e mais futebol: futebol vezes quatro na radiofonia de Portugal. Se o futebol alimentasse, não haveria fome neste país.
Estou farto desta trampa. Estou farto desta comunicação social que insiste em alimentar-nos com papinhas doces e inofensivas como se fôssemos todos bebés. Estou farto de ligar o rádio e ser de imediato levado ao vómito por mais um relato futebolístico ou pela voz desenxabida de um Luís Represas ou de um João Pedro Pais (e muita sorte tenho eu por raramente apanhar o João Afonso, senão estava sempre a limpar vomitado do chão). Estou farto de ligar a TV e me afogar nas bolinhas de sabão de alguma "soap opera" nacional, ou de me ver subitamente perdido no deserto de ideias de uma Manuela Moura Guedes e um Vasco Pulido Valente. Estou farto de ouvir comentários aos comentários aos comentários, críticas às críticas às críticas, dirigentes de partidos políticos que se limitam a cuspir chavões ocos sem se esforçarem minimamente por demonstrar a substância e a viabilidade daquilo que apregoam.
Procuro ideias, quero ouvir gente pensante que me ensine e me ajude a pensar e me faça acreditar que este país ainda vale a pena, mas nas tardes e noites de fim-de-semana o futebol abafa tudo, como um voraz eucalipto nas serras áridas do Alentejo.
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